sábado, 10 de novembro de 2007

Autosuficiência em petróleo já é passado

Em abril de 2006, o governo brasileiro anunciou a autosuficiência nacional em petróleo. De lá para cá, o que realmente o país (população) ganhou com isso? Agora o passo é maior e já se pensa em pleitear entrada na OPEP. De comum importador, sujeito à todas as intempéries do mercado global, a exportador e membro da OPEP. Mas realmente quem ganha com isso, já que o petróleo e a empresa responsável por sua exloração são nacionais?E a geopolítica regional e global passará por quais alterações, após isso?


Chávez propõe sociedade a Lula na "Petroamazônia"

Venezuelano diz que descoberta da Petrobras pode levar Brasil a entrar na Opep O assessor da Presidência Marco Aurélio Garcia afirma que descoberta de petróleo não fará o Brasil abandonar política de biocombustíveis

RODRIGO RÖTZSCHENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse ontem ao seu colega Luiz Inácio Lula da Silva que as descobertas de novas reservas no Brasil o transformaram em um "magnata petroleiro" e propôs a criação de uma "Petroamazônia" unindo as petroleiras de ambos países. As declarações foram feitas na 17ª Cúpula Ibero-Americana de Chefes de Estado e Governo, em Santiago do Chile, que acaba hoje. Lula não respondeu aos comentários, porque, por falta de tempo, não fez o discurso que tinha previsto. Em seu discurso de pouco mais de 20 minutos, Chávez abordou quatro vezes a descoberta da Petrobras. A primeira foi quando falava do tema da cúpula -coesão social: "Podia haver um caminho muito coeso [para a Ibero-América], de terra, de asfalto e desse petróleo que o Brasil acaba de conseguir, tomara que seja verdade. Que pode permitir ao Brasil entrar na Opep [Organização dos Países Exportadores de Petróleo]". Depois disse que a Venezuela está formando a "Petroamérica" com países da região, e agregou: "Com o Lula, agora que tem tanto petróleo, podemos fazer uma Petroamazônia". Em seguida, afirmou que "Lula está muito feliz" porque o "petróleo agora está a US$ 100 [o barril]". Por fim, propôs que Brasil e Venezuela vendessem petróleo mais barato a países necessitados: "Lula, agora que você é um magnata petroleiro, temos que nos unir para ajudar aos países que não têm tanto petróleo, vender mais barato". O presidente brasileiro riu das brincadeiras do venezuelano. A insistência de Chávez com o tema mostrou um certo tom de preocupação com a concorrência do Brasil no campo energético, maior trunfo do venezuelano para exercer sua liderança sobre países da região. Sem invejaO assessor especial para Assuntos Internacionais de Lula, Marco Aurélio Garcia, negou que as declarações de Chávez mostrem despeito pela descoberta brasileira. "Como Chávez vai ter inveja se a Venezuela é o único grande produtor petroleiro na região?", questionou. "Eu conversei com o Chávez há pouco e ele disse: "Isso para nós é ótimo. Nós vamos dar muito mais força à América do Sul". E ainda brincou: "Eu vou propor na semana que vem, na próxima reunião da Opep na Arábia Saudita, o ingresso do Brasil". É bobagem, porque nós antes vamos ter que extrair esse petróleo", afirmou. Marco Aurélio disse que a proposta da Petroamazônia não significa a criação de uma só empresa unindo a Petrobras e a venezuelana Pdvsa. "Antes disso já havia uma outra proposta, que associava a Enarsa (Argentina), Petrobras e a Pdvsa na chamada Petrosur. A idéia não é formar uma só companhia, de maneira nenhuma. Em realidade não precisaria propor uma Petroamazônia, até porque o petróleo não é na Amazônia. A Petrosur é muito mais uma espécie de acordo petroleiro entre os três países." Sobre a venda de petróleo mais barato à região, disse que isso "não está em discussão". Segundo Marco Aurélio, o novo petróleo encontrado é importante não só pela sua quantidade, mas pela qualidade. "Nós vamos ter um petróleo de altíssima qualidade. Um petróleo tipo Arábia Saudita, tipo Líbia. Evidentemente é um trunfo econômico muito grande." Marco Aurélio afirmou que a descoberta de mais petróleo não fará o Brasil abandonar o desenvolvimento de biocombustíveis. "Não vamos abandonar nosso programa de biocombustíveis, muito pelo contrário, vamos aprofundá-lo. Posso contar uma piada. O Chávez me disse: "Agora vamos produzir biocombustíveis na Venezuela, se vocês estão produzindo tanto petróleo"."


Maravilha, não?
Mas as questões em torno do assunto estão longe de serem esgotadas ou seguirem caminho claro. Há indícios de que a reserva já era conhecida desde 2005, mas somente agora foi anunciada. Há também a questão da OPEP, que interesses reais o Brasil pode ter contemplados ao pleitear entrada no exclusivíssimo bloco? Outra questão é a profundidade dos poços, a mais de 6000m, o que torna a exploração muito difícil, mesmo para a líder em águas profundas PETROBRAS. E no final, a grande pergunta, com toda essa reserva de petróleo, os combustíveis ficarão mais baratos para a população do país, como acontece na Venezuela? Caso contrário, nós, povo brasileiro, não acionistas da PETROBRAS e nem ligados diretamente a alguma corrente que lucre imediatamente com o anúncio, estamos comemorando exatamente o quê?

Nenhum comentário: