segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Estudioso da Coluna Prestes era da CIA

Neill Macaulay, autor de dois livros traduzidos no Brasil, entrevistou Luiz Carlos Prestes em Moscou
ELIO GASPARICOLUNISTA DA FOLHA

Morreu no final de outubro, aos 72 anos, o professor americano Neill Macaulay, autor de dois livros traduzidos no Brasil: "A Coluna Prestes" e "D. Pedro I", além de "The Sandino Affair", narrativa da luta do guerrilheiro nicaraguense contra os americanos entre 1927 e 1930.Pesquisando a Coluna, Macaulay entrevistou Luiz Carlos Prestes, exilado em Moscou. O então secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro deu "uma vista de olhos" nos originais antes da publicação. Pudera, Macaulay comparou a Coluna às marchas de Enéas depois da queda de Tróia.Macaulay rodou pelo Brasil e pela Nicarágua, com uma biografia de revolucionário. Lutara junto com os guerrilheiros de Fidel nas montanhas cubanas e chegara a tenente do exército dos barbudos. Uma das suas missões foi treinar soldados para executar inimigos: "Eu fiz o que tinha que fazer. Esses sujeitos mereceram o que tiveram." Em pelo menos um caso, puxou o gatilho. Existem nove fotografias de Macaulay com roupa de guerrilheiro, três na companhia de Fidel.No necrológio do professor, publicado pelo "Miami Herald", seu filho Robert revela que ele foi um informante da Central Intelligence Agency, a CIA. Robert viu cartas do professor para Justin Gleichauf, o famoso chefe do escritório da agência em Miami nos anos 60.Continham "sugestões sobre algumas pessoas que poderiam ajudar" a derrubar Fidel Castro. Os dois tiveram contatos regulares. "Ele conhecia gente... Era uma mercadoria valiosa, um dos raros professores universitários que cooperavam com a CIA e ele se orgulhava disso", contou o filho.Macaulay viveu pouco tempo sob o castrismo, cuidando de uma plantação de tomates. Segundo o "Miami Herald", retornou aos EUA ajudado pelo senador Strom Thurmond, amigo de sua família, ícone do racismo americano (noves fora uma filha com a empregada). Depois de se formar pelas universidades da Carolina do Sul e do Texas, tornou-se professor da Universidade da Florida em 1964. Voltou a Cuba várias vezes, como acadêmico especializado no estudo de guerrilhas.Macaulay foi antecedido na conexão com um serviço de inteligência pelo historiador inglês Charles Boxer, autor do clássico "Idade do Ouro do Brasil". Boxer foi um dos maiores estudiosos do império colonial português e morreu em 2000, aos 96 anos. Entre 1933 e 1947 ele trabalhou no Serviço Secreto britânico, tendo chefiado seu escritório de Hong Kong.Tomara que o historiador Dauril Alden publique logo sua biografia de Boxer, com as histórias de seus livros, mulheres e guerras. Não há paralelo entre o inglês e o americano. A qualidade da obra dos dois não se compara e Boxer estava ostensivamente ligado ao serviço de inteligência. Ele era major do Exército e servia na seção de informações. Durante a guerra, foi preso pelos japoneses e chegou-se a anunciar que morrera.Macaulay foi um informante disfarçado de professor e entrevistou Prestes no apartamento dele em Moscou. Há suspeita de que o professor se matou.

fonte: Folha On Line

Conheci pessoalmente Luis Carlos Prestes. Foi no final dos anos 80 (portanto pouco antes de sua morte, em 1990), numa cidade chamada São José do Rio Pardo. Ele estava lá para dar uma palestra num evento regional de importância nacional - a Semana Euclidiana. Eu era muito novo pra entender a importância daquele momento. Tinha 18 ou 19 anos. Ele já passava dos 90. Eu ali ouvindo aquele "velhinho" baixinho e franzino falando de suas aventuras pela história do Brasil. Aventuras reais. Estava na minha frente uma personagem da história brasileira, protagonista de importantes capítulos, coisa que jamais serei. Era minha ligação mais real com um passado que teima em se fazer presente - autoritarismo, manipulação da informação, cerceamento da liberdade. Ontem era claramente o governo. Hoje quem são os agentes opressores? Ironicamente a mídia faz muito bem esse papel, esquecendo-se do seu "juramento de hipócrates"...

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